Sou servidor federal, da Justiça do Trabalho, há 36 anos, vivenciando, mesmo estando na área administrativa, a labuta de gente com pé rachado, rosto sulcado pelo tempo, ainda que com pouca idade; gente com olhar opacificado, pois o seu patrão não recolheu INSS, FGTS; gente que não teve a sua carteira de trabalho assinada; gente até sindicalizada, mas que tinha que trabalhar 12... 14 horas por dia, sem horas extras; gente terceirizada, mas que a empresa não repassa o salário devido; gente demitida por estar doente; mulher demitida por estar grávida, sem qualquer pagamento indenizatório, enfim, vejo pelos apinhados corredores da Justiça do Trabalho muita gente sofrendo a exploração por parte de alguns empresários mesquinhos, desumanos, que querem enriquecer às custas de trabalho forçado e/ou escravo de gente que só quer sobreviver.
Mas vejo também trabalhador, claro, que trapaceou, enganou, mentiu e fraudou. Dessa forma, não há como não se revoltar diante dos ataques que a Justiça do Trabalho vem sofrendo, ora pelo presidente da Câmara Federal, senhor Rodrigo Maria, quando afirma que a Justiça do Trabalho não deveria existir; ora pelo deputado José Carlos Aleluia.
Essa gente, a priori, é eleita para defender o povo e buscar ampliar o seu bem-estar, ou o quê? A que gente essa “estirpe” serve? Certamente, são pessoas que nunca foram empregadas, sempre patroas, e devem se contorcer diante de deveres, pois guardam apreço só pelo que conceituam como direitos.
Não sou fanático por nada, posto que procuro ponderar as questões e conflitos que me chegam sob a luz autodiscursiva da razão. Sei que coisas precisam ser atualizadas nas relações de emprego, porém me pergunto a quem interessa realmente o desamparo do povo sem voz? Esses políticos sabem que o Poder Judiciário em instância alguma é criador de leis, mas sim o seu aplicador. De outra parte, leis são feitas aqui e ali, por interesses corporativistas e próprios, que geram arrastamentos sem fim de ações – em todos os âmbitos –, em uma infinidade de recursos processuais apenas para autoproteção, e depois posam de vestais do comportamento social, criticando decisões que podem ser revistas em instância superior à sua de origem.
Ora, ora, vamos encontrar pessoas de conduta irresponsável por todos os lados, como afirmou o presidente do TST, em resposta ao deputado Rodrigo Maia, mas cá para nós: onde é mesmo que há a predominância de possuidores de adjetivos que nada qualificam?
A sociedade brasileira passa por um processo doloroso de parto, mas espero que nasça daí uma real Nação, acabando com a grilagem de grupos com os seus interesses inconfessáveis. Futuras gera- ções merecem, pelo menos elas. É esperar esperançosamente.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSal
Fundador e Presidente da Cidade da Luz