Há um medo estabelecido sobre o mundo, gerando questionamentos inúmeros sobre o que é, de fato, ter saúde. Naturalmente que o conceito é muito abrangente, porém a Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua como sendo um bem-estar físico, biológico, mental e social, não apenas a ausência de enfermidade.
É certo, por outro lado, que tudo isso também se relaciona a questões psicológicas, em verdade as grandes estabelecedoras desse bem-estar geral. Assim vemos na psicossomática, ainda que questionada por alguns, uma ciência que estuda as doenças orgânicas como uma espécie de descarga no corpo por uma disfunção do sistema nervoso, cuja origem está nas questões emocionais. Busca-se a ligação entre causa e efeito.
Freud contribuiu para as relações entre o psíquico e o somático, envolvendo seus trabalhos sobre neurose, histeria e conversão, reconhecendo o funcionamento psíquico nos sintomas somáticos de suas pacientes. Infelizmente não dedicamos muita importância, em geral, à busca da nossa saúde emocional e espiritual, aqui no sentido mais amplo, não necessariamente ligada à religião, mas às possibilidades transcendentes a uma realidade puramente física e cartesiana. É assim, então, que estamos vendo, em nossa falta de habilidade com as questões emocionais, a Covid-19 desestruturando pessoas, e o pior: fazendo surgir sintomas dele ou o vendo em toda e qualquer manifestação que pode até ser constante na pessoa, por conta de uma asma, rinite, por exemplo, mas neste momento tudo se transforma na possibilidade de ser a sentença da contaminação.
Não se discute que precisamos ter cuidados, seguir as orientações de quem conhece e fugir do achismo ou mesmo de explicações mirabolantes, muitas delas em mensagens ridículas tidas como espirituais, explicando, sugerindo ações sem qualquer respaldo na ciência.
Somos cheios de questões mal resolvidas que precisam sair, serem descobertas, ressignificadas, a fim de que deste emaranhado de neuroses possamos tentar encontrar o fio da meada que nos faz bombardear nosso corpo, gerando, muitas vezes, uma fragilidade emocional de grandes proporções.
Em momentos de crises psicossociais é de grande importância dedicarmos uma especial atenção aos nossos sentimentos, questionando-os, como a buscar os porquês de estarmos naquela posição, tendo aquelas emoções, a fim de que a partir deste interesse, quem sabe, pode nascer uma busca mais amiúde de quem de fato somos e o que nos mobiliza na ou para vida. Conhecermo-nos é um desafio constante, que em verdade nunca vai parar de acontecer, visto que nunca dominamos plenamente o de que somos capazes diante do que ainda não vivemos. Aí pode estar um grande significado para a vida: descobrir quem somos.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz.