Nesses últimos dias, as redes sociais estavam em polvorosa com as opiniões acerca do novo pedestal do Cristo, da Barra, inclusive com a criatividade espetacular de chamar o tal equipamento de fusível. Parece mesmo.
A verdade é que muita gente colocou que gosto não se discute, todavia não se trata de gosto. Há uma grande confusão entre gosto e estética, que são expressões do sentir distintas: gosto, de fato, é pessoal, produto do contato sócio-cultural-familiar de uma pessoa. Ou seja, é o resultado cognitivo de escolha do que a agrada, no processo de, digamos, “massificação” de conteúdo do lugar onde se vive, da família que apresentou e ou das condições de acesso. Dessa forma, realmente o gosto será sempre pessoal, marcado pelo histórico cognitivo da pessoa. Razão pela qual uma pessoa que cresceu ouvindo samba, vai ter o gosto direcionado, de preferência pelo samba – salvo se foi obrigada a ouvir – e assim por diante, em relação a tudo.
Já a Estética é um ramo da Filosofia, logo é uma ciência, que guarda como objetivo o estudo da beleza, a fundamentação da arte. Dessa forma, surge a harmonia da estética. A grosso modo e mal comparado ao que se fala da harmonia do vinho com o que vai se comer, segundo os especialistas – e nada disto entendo -; da harmonia das cores de uma roupa, muitas vezes até intuitiva, mas, em verdade, guarda uma lógica na gradação do prisma das cores e dos padrões.
Dessa forma, o pedestal do Cristo da Barra parecendo um fusível é de profundo mal gosto, pois quebra totalmente a harmonia da obra de Chirico, pois há uma interferência no próprio equipamento de um objeto totalmente anômalo a escultura em si, ou seja, não é algo modernoso colocado ao lado – como a pirâmide de vidro em frente ao Louvre, por exemplo -, mas algo que interfere no classicismo da obra. Alguém imaginaria uma obra de “Da Vinci em uma moldura de aço escovado? Questiona meu amigo artista plástico Zaca Oliveira. Principalmente se aquela obra é tombada pela própria prefeitura, o que foi feito no ano passado, quando dos 468 anos de Salvador.
A estética sugere que a base mais adequada foi a da época da sua inauguração em 1920 – onze anos antes da do Cristo do Rio de Janeiro-, uma grande pedra, contextualizando a escultura e a proposta da mensagem, ou sobre base de granito, como era recentemente..
Foi bola fora do prefeito e de quem o assessorou, na tal modernização, para imprimir um aspecto de levitação do Cristo, mas, em verdade, o fez parecer, realmente, em cima de um fusível.
Gosto não se discute, mas estética, sim.
José Medrado
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal.