O volume de informações que todos temos nos dias atuais está deixando para trás, lá para as décadas de 70 e 80, o que chamaria de fé ingênua, onde os postulantes a espíritas acreditavam em tudo que os “médiuns” diziam, principalmente quanto à excepcionalidade de suas “faculdades”. Muita gente comia gato por lebre, e ainda come. Recentemente, por exemplo, um jovem veio me procurar alegando que tinha mediunidade de psicografia, mas que era totalmente mecânica.
Segundo O Livro dos Médiuns, cap. XIII e XV, o que caracteriza o fenômeno nessa circunstância é que o médium não tem a menor consciência do que escreve; a inconsciência é absoluta, nesse caso, constitui o que chamamos médiuns passivos ou mecânicos. Essa faculdade é preciosa, pois não pode deixar nenhuma dúvida sobre a independência do pensamento de quem escreve. Então, já que ele se dizia totalmente mecânico, eu deduzi: Você deve estar escrevendo em mandarim, grego, aramaico, javanês, em todo tipo de língua, não é verdade? Ele titubeante disse: Não! E gaguejou... Sugeri: Meu jovem, não incorra no erro de muita gente por aí, que diz o que não é. Não comece iludindo, assuma o limite que tem, e viva honestamente a sua mediunidade.
Pois é, até hoje ainda ouço contos da carochinha em torno da mediunidade e, sem medo de errar, afianço que atualmente não há no mundo médium espírita algum que seja mecânico, porque se o fosse estaria dando demonstrações cabais de seus fenômenos, psicografando laudas e mais laudas em latim, russo e por aí vai. Se existisse médium com tal credencial, estaria, sim, fazendo isso, por que o interesse do médium não é dar provas da imortalidade da alma? Então...
Já passou da hora de nós espíritas vivermos neste mundo de Polyana, afirmando o que não sabemos. A nossa doutrina precisa do bisturi da investigação, e é justo que se proponha sempre como instrumento de convalidação do que se prega na teoria, fazendo com que as descrenças cedam ao imperativo de uma comprovação irrefutável.
Precisa-se aprender a questionar os médiuns e suas mediunidades, sem medo de ofensas ou achar que estaremos cometendo um sacrilégio. De forma alguma! E nós, médiuns, haveremos de entender a proposta, em nome da coerência e das nossas próprias considerações.
Assim, cabe, sim, o desafio a quem diz que faz, sabendo que mistifica, pois as pessoas esclarecidas ficam à ribalta comentando as suas descrenças, enxovalhando o processo mediúnico por culpa exclusivamente de médiuns que prezam mais seus egos do que a fé que professam, se é que alguns têm realmente fé, pois mentindo serão capazes de achar que todos mentem.
No século XXI, onde a Internet gera informações prontas e os questionamentos são mais certeiros, onde a falta de cerimônia tem evidenciado o comportamento inquiridor, sem rodeios, é mais que impositivo a urgência da necessidade de se ter uma pregação que se possa comprovar. Lembro-me do querido e saudoso Josué Arapiraca, que viveu a sua mediunidade com uma honestidade ímpar, quando afirmava que “pregação sem exemplo é cheque sem fundos”.