Uma semana antes do início do conclave que guardava a missão - responsabilidade da eleição do líder maior da Igreja católica -, uma associação americana formada por vítimas de abusos sexuais atribuídos a padres pedófilos publicou uma lista contra doze possíveis candidatos a papa e exigiu que a Igreja de Roma levasse a sério a proteção das crianças, pois, segundo essa associação, esses cardeais evitaram apuração das denúncias, quando não foram os próprios agentes.
Inegavelmente, este tem sido o grande problema da Igreja Católica nas últimas décadas, razão pela qual o próximo papa precisará acenar de forma firme que não transigirá com posturas que não podem ser reduzidas a falácias como a dita pelo cardeal escocês O’Brien, que reportou a “atos impróprios”.
"Queremos dizer aos prelados católicos que deixem de fingir que o pior já passou" sobre o escândalo de pedofilia dentro da igreja, declarou David Clohessy, diretor da Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês).
A organização citou uma dúzia de cardeais da Argentina, Austrália, Canadá, EUA, Gana, Honduras, Itália, México e República Tcheca, acusados de proteger os padres pedófilos ou por terem feito declarações defendendo religiosos.
Não guardo dúvida alguma de que a Igreja Católica tem na maioria dos seus pilares homens de bem que, por vocação, buscam a vivência de seus valores sacerdotais, razão pela qual não se pode deixar que frutas estragadas contaminem todo o cesto. O novo Papa precisa dar sinais claros de rigor, disciplina a esses crimes perpetrados contra a infância e juventude, como aceno de que a Igreja no seu todo tem compromisso com a ética e a moral, e não apenas jogos de cena contra o uso, por exemplo, de preservativo, não descriminalização do aborto.
É fato notório que os católicos hoje em dia não guardam, na grande maioria, seguimento aos ditames da Igreja, a crença se estabelece por tradição familiar, formou-se uma espécie de rebeldia religiosa, exatamente por conta do anacronismo, do distanciamento da Igreja de sua população. Seria de grande inspiração se o próximo papa pudesse, sob a inspiração de João XXIII, reeditar um novo concílio, como foi o Vaticano II que começou sob o seu auspício e terminou no de Paulo VI. Foi, inegavelmente, um marco de aproximação da Igreja do seu povo.
Em 1995, o Papa João Paulo II classificou o Concílio Vaticano II como "um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo". Ele acrescentou também que essa "reflexão global" impelia a Igreja "a uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor. Mas o impulso vinha também das grandes mudanças do mundo contemporâneo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas à luz da Palavra de Deus". Talvez, o tempo atual esteja trazendo as mesmas exigências que o Papa João Paulo II falou da década de 60, quando foi do Concílio Vaticano II. Que assim seja, até como contraponto ao fundamentalismo de algumas religiões neopentecostais.