Sou efetiva e verdadeiramente cristão, não apenas na rotulação, mas buscando realizar trabalhos práticos que convalidem a teoria que prego, dentro, naturalmente, dos limites do razoável, sem o pieguismo que encobre a realidade humana, tampouco dos “arrebatamentos” que mascaram as intenções.
Li aqui em BNews, no domingo (8) que o vereador Isnard Araújo (PHS) protocolou, na Câmara Municipal de Salvador, um projeto de lei que gera punições para o que ele chamou de atos de “cristofobia”. Nem mesmo sabendo dizer, conceituar o que seria. Devaneia, afirmando que “estabelecimentos comerciais, industriais, culturais, de ensino e de entretenimento, bem como as repartições públicas municipais que discriminarem pessoas em virtude da fé cristã” [sic] sofrerão punições que incluem advertência, multa e até suspensão das atividades. Naturalmente, que elenca justificativas na liberdade de religião, consciência e tais. Vimos, ainda recentemente, além disso, o Supremo Tribunal Federal , e voto de desempate dado por sua própria presidente, Ministra Carmen Lucia, autorizar o ensino confessional religioso, ou seja, o professor poderá propalar, ensinar a sua fé aos alunos de escolas públicas. A liberdade de expressão está sendo vilipendiada por todos os lados. Retrocesso violento e duro.
Ora, caro leitor, qual será a religião que prevalecerá nessa “doutrinação”? É sabido que as de matriz africana são as mais perseguidas, injuriadas, caluniadas...terão elas espaço de pregação? Vamos ser honestos! A doutrinação descambará para onde? Tempos mais que difíceis que vivemos, são tempos de verdadeiro obscurantismo.
Mas voltando ao ilustre vereador: o que será discriminação para o edil? Se eu disser que um cristão é exagerado em sua pregação, mentiroso em suas defesas, manipulador das passagens evangélicas será uma cristofobia? Certamente. E mais: se eu disser que o Novo Testamento foi manipulado, inclusive por conta de interesses políticos, econômicos que sempre eivaram as religiões, inclusive a cristã, estarei eu sendo “cristofóbico”? Se um judeu, que não acredita que Cristo tenha sido o messias, nem mesmo um profeta, proclamar sua verdade, o que acontecerá? Ou seja, busca justificar de forma falsa uma laicidade conveniente, que em verdade nada mais é do que o caminho para o estabelecimento de um país extremado por uma religião.
Como disse acima, estamos vivendo tempos obscurantistas preocupantes, onde os cupins estão por todos os lados, comendo os pilares da nossa democracia. Não podemos ficar nesta preguiça moral, achando que nada mais tem jeito, ou mesmo esperar por gerações futuras, já que – afirmam muitos – a nossa está totalmente entorpecida e sem qualquer reação. Não. É preciso, sim, reagir, pois este país não pertence a extremista de ideologia alguma, ele é de todos nós.
José Medrado
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal.