No livro Dorival Caymmi: o Mar e o Tempo, uma biografia escrita por sua neta Stella Caymmi, o biografado revela sobre sua música João Valentão, gravada pela primeira vez em 1958, por Ângela Maria: “Eu tinha achado: ‘E assim adormece esse homem, que nunca precisa dormir pra sonhar, porque não há sonho mais lindo do que sua terra, não há’. Depois, veio um contestador: ‘Por que não diz sua vida?’. Eu fiquei entre vida e terra muito tempo, na dúvida.
Aí achei que terra abrangia melhor, encorpava melhor, adocicava melhor a coisa, o pé na terra”. Pois é, velho e bom Dorival, tenho certeza de que você deve hoje estar muito arrependido da escolha, pois só tentando dormir para sonhar, no caso, com uma Salvador linda, pois a de hoje é só pesadelo.
As praças e jardins abandonados e sujos, onde desocupados, drogados perambulam fazendo-se de cartão de visita dos principais monumentos da Cidade; as ruínas de fontes e espelhos d’água são lavanderias públicas de moradores de rua; a Barra, pobre Barra, de forma mais degradada ainda, está se tornando a Copacabana da Bahia, em prostituição e terra de ninguém, onde as suas transversais cheiram mal e exibem a decadência de toda uma cidade. O trânsito, preciso falar?
O Farol da Barra, construído no século XVII, o primeiro de todo o continente americano, resistiu às intempéries de toda natureza, mas está capitulando, rachando diante de tantos shows com os seus decibeis nas alturas. Medidas foram tomadas, mas os “artistas” reagiram. O Pelourinho está agonizando com todos os casarões de comércio desabando e matando gente.
No jogo político de bastidores, em tentativa de enfraquecimento velado de um dos lados, a segurança da cidade se esvai pelo vertiginoso crescimento da criminalidade em todas as direções. Raro encontrar um morador da Pituba, por exemplo, que já não a tenha vivido. E como se não bastasse tudo isso, ainda somos esmurrados com escândalos como este em investigação das tais transferências do direito de construir (tanscons), onde a sangria da sempre proclamada pobre Salvador pode chegar a R$750 milhões.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz