Nesses tempos de coronavírus relembrando que há muito as pesquisas anuais da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), em parceria com o Instituto Gallup, divulgadas pelo World Giving Index indicam que o Brasil não é um país solidário. A cada ano os indicadores brasileiros só vêm despencando. Na última pesquisa, o Brasil caiu, entre 146 países pesquisados, da posição 75 para a 122. Muito triste, mas de tão fácil percepção.
Não faz muitos dias, presenciei ao entrar em uma farmácia para comprar um anti-histamínico, uma discussão inusitada, para falar o mínimo: uma senhora viu um vidro de álcool em gel sobre o balcão e quis comprar, ao que a vendedora disse que aquele era para o uso dos clientes – já estava pela metade -, ali, naquele momento de compra...mal a funcionária acabou de falar, como um flecha, uma outra senhora veio da outra extremidade do balcão, vociferando: se vender para ela, vai ter que dividir, pois também quero. Confesso que fiquei atônito, inclusive porque uma pequena discussão se iniciou entre as duas “cidadãs” que queriam o que não estava à venda, era para uso coletivos.
Ora, certamente você que está lendo estas despretensiosas palavras vai começar a lembrar de algum episódio envolvendo a tal farinha pouca o meu pirão primeiro, sem qualquer noção de cidadania, de empatia com o outro. Na mesma hora me veio uma imagem de um tsunami recentemente ocorrido no Japão e uma fila, organizada, onde cada pessoa recebia uma pequena garrafa de água mineral, de forma ordenada, sem os fura-filas, sem reclamações.
Alguém se lembra de Brumadinho e Mariana, das centenas de mortes, da movimentação nacional por ajuda? Saiu da mídia, deixa de ser foco.
Por outro lado, ainda pior, uma queda de braço e mesmo torcida para que um lado (a favor da quarentena horizontal) e o outro (da vertical) vibrando para que a sua posição seja a vencedora. O que implica em torcer para ver quantos mortos e danos poderão ser contabilizados a favor de quem defende um ou outro lado. Tudo muito triste e bisonho.
Dessa forma, infelizmente, vou na contramão de quem está dizendo que esta pandemia fará as pessoas a terem uma visão diferente da vida, de sua forma de conduzir suas questões pessoais e coletivas.
Honestamente? Talvez quando passar essa tragédia e termos a dimensão de tudo que possa ter acontecido, acredito que se guardará um pouco dos resquícios do medo, da angústia...das lembranças, mas com o passar do tempo tudo – espero estar enganado – voltará ao mesmo patamar do egoísmo de sempre. Infelizmente.
José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.