Inegavelmente, a educação é, em última análise, a grande responsável pela conquista de tudo aquilo que vamos incorporando, ao longo da nossa vida, ao que somos, uma vez que nada temos ao nascer, e do que necessitamos como adultos precisamos buscar. Isso quem disse foi o filósofo e escritor suíço Jean-Jacques Rousseau, considerado o Copérnico da educação, que acreditava que o indivíduo nasce fraco, desprovido de tudo. Cabe ao processo educacional, portanto, rechear de conhecimento e de valores aquele cidadão e ajudá-lo a construir bases para a vida adulta.
Falta-nos, assim, nesses dias que correm, uma educação direcionada ao convívio. Estamos, mais do que nunca, deseducados e grosseiros. Desde um simples gesto de cumprimento no elevador, até uma profunda irritação ao sermos contrariados, por exemplo, no trânsito. Parece que perdemos o mínimo esperado para uma vida em convivência: o respeito ao outro.
Nesse capítulo da falta de respeito e intolerância às diferenças vistas no outro, o professor da Universidade de Minho, em Portugal, Licínio Lima afirma que com o acirramento de ideias e ideologias cada vez mais fortes, a tendência é a segregação, a separação entre aqueles que se consideram diferentes, gerando não apenas uma polarização de opiniões, mas, o pior, um afastamento da civilidade, visto que após os conflitos de argumentos, em especial nas redes sociais, pode-se ter a necessidade de confronto cada vez mais agressivo, com resultados imprevisíveis. Uma sociedade que se vê estimulada por seus líderes, nos mais variados segmentos dos formadores de opinião, à desagregação da convivência cidadã está relegada ao empobrecimento das ideias, em processo de pontos de vista desedificantes.
Vejo como equívoco um processo social e até de políticas públicas para apenas a divulgação da existência do pluralismo, mas não vejo resultantes educacionais na promoção da convivência respeitável com os diferentes. Esse, acredito, deve ser o ideal de uma realidade democrática, a serviço de todos e de suas ideias pessoais e de grupo. Toda vez que cada um, cada grupo acreditar que o seu jeito de fazer as coisas, de pensar e manifestar é o único correto e melhor do que os demais, assim como os seus valores e crenças, abre-se mão dos princípios democráticos e se assumem posições fascistas, e a história já mostrou até onde um indivíduo e uma sociedade intolerantes podem chegar. O extremismo é o sintoma mais grave de uma sociedade doente, alguém já disse.
A educação precisa criar estratégias curriculares reais e específicas para o aprendizado de se saber conviver em sociedade, a fim de melhor prepararmos as gerações futuras, pois nós, sei não, está difícil visualizar mudanças.
José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz