Recentemente, fiquei chocado com uma jovem, cerca de 30 anos, que me procurou para relatar que a sua vida era insuportável, que ela não estava mais aguentando ficar “neste mundo”. Ao questioná-la, tentando mitigar alguma equivocada fundamentação de tal assertiva, surpreendi-me quando ela disse ver que suas amigas mais próximas, mesmo as que não eram assim tão íntimas, eram muito mais felizes, e que tudo lhes corria bem. Insisti em saber como ela teria certeza disso, e ela não titubeou: “Vejo pelo Facebook e Instagram”. Não acreditei no que estava ouvindo, uma jovem, acadêmica universitária e baseando seu valor de felicidade em redes sociais.
É fato que desde 2011 o universo científico tem gerado estudos sobre este tema. Cientistas da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, chegaram a afirmar que milhares de “likes”e“compartilhamentos” podem levar a sintomas de depressão por conta da inveja que despertam em alguns usuários, bem como comparações equivocadas quanto a sua própria forma de vida, gerando, assim, uma espécie de frustração que pode evoluir até uma profunda depressão. No mesmo sentido, a Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, também concluiu que usuários mais contumazes dessas redes apresentam mais frequentemente sintomas de depressão, enquanto aqueles que usam de forma mais comedida, não. Também é verdade que médicos e psiquiatras já evidenciaram que essas pessoas são as que têm mais suscetibilidade à tristeza. O coordenador do ambulatório do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clí- nicas de São Paulo, Rodrigo Leite, defende a teoria de que as redes sociais, em geral, efetivamente levam à depressão, por conta de uma visão falsa, distorcida, mentirosa da vida dos outros, fazendo, assim, um contraponto negativo com a sua.
As redes sociais mexem com o nosso instinto do reconhecimento social, aquela sensação boa que você tem quando recebe muitos likes em uma foto que acabou de postar. Mas a interação na internet não gera uma recompensa social real, e isso pode levar a pioras no quadro da doença. “Acabamos caindo nessa pequena armadilha de reconhecimento social que para as espécies dos mamíferos sociais é um estímulo muito esperado”, afirma o pesquisador. Já o médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Elton Kanomata, explica que esse processo é um círculo vicioso e quanto mais a pessoa se refugia nas redes sociais, mais reforça os seus problemas no mundo real: “O perigo é que isso pode se tornar uma bola de neve, deixando a pessoa cada vez mais afastada do convívio social”. Não vamos negar as vantagens que esta ferramenta nos trouxe, mas o segredo é antigo e sempre válido: todo excesso é nocivo.
José Medrado,
Mestre em Família pela Ucsal e Fundador da Cidade da Luz