Estamos vivendo momentos de perplexidade, algumas vezes estarrecidos, pelo visto no liberum disputatio – debate livre –, onde as pessoas falam o que lhes vem à cabeça, em defesa deste ou daquele princípio, sem qualquer critério de ponderação. Discute-se com base pura e simplesmente no que ouve dos seus admirados ou de fortuitas leituras, e tudo se torna verdade, sem qualquer dúvida, nem ressalvas. Falta para muitos, em todos os lados, acredito, o senso crítico.
No sentido filosófico, o senso crítico é a busca do desenvolvimento de uma consciência reflexiva baseada na capacidade de discernir sobre os assuntos, buscando entendê-los, neutralizando as possíveis ideologias dominantes da cultura a qual se está submetido de cunho político, religioso ou de outros grupos quaisquer, que procuram fazer juízo de valor mediante tentativas de convencimento de suas premissas. Será sempre indispensável para a formação do conteúdo de viver opinativo, a capacidade social do homem em desenvolver o seu senso crítico.
Nunca deveremos, a bem da independência de conceitos, aceitar as coisas sem questionar, pois questionar é pensar. É estar sempre buscando uma forma de decidir quanto se a afirmação ouvida, lida é verdadeira, falsa, ou às vezes verdadeira e às vezes falsa, ou parcialmente verdadeira e parcialmente falsa, pois no domínio da falácia (qualquer enunciado ou raciocínio falso que simula a veracidade) tudo é possível. Veremos, por exemplo, nos políticos, em sua expressiva maioria, atos de enganação, como forma de convencimento dos seus argumentos, concebidos, não raros, com o objetivo de produzir a ilusão de veracidade.
O senso crítico desvela, algumas vezes de forma desconfortável, a verdade no bojo das manipulações, ou mesmo a dolorosa constatação da rede de mentiras e sofismas utilizada como objetivo de fazer prevalecer a teia dos interesses de quem se arvora ao ludibrio, como caminho para a prevalência de seus objetivos, talvez inconfessáveis.