Todo ser humano visa equilibrar os seus comportamentos de acordo com suas crenças e valores, tentando assim gerar decisões que possam, digamos, causar quietude emocional. Dessa forma, a todo o tempo, quando decidimos, sentimos uma necessidade de manter aquela decisão já tomada, de defendê-la, exatamente como forma de manutenção do conforto psicológico, que ela nos gera, corremos o risco em algum momento futuro desta ação passar por um choque, em função de mudança de percepção do decidido, começa aí a surgir um conflito.
A esse conflito os psicólogos, com base nos estudos do norte-americano Leon Festinger, chama de dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva, portanto, é o resultado emocional proveniente de uma ação onde crenças e evidências se chocam. Geralmente, a partir deste momento o conflito tende a buscar toda sorte de justificativa, até mesmo o autoengano, como instrumento de restabelecimento do seu conforto emocional, valendo-se, muitas vezes, até de argumentos que funcionarão como anestésico paraoseu conflito.
Estamos vendo muito este comportamento de centenas de pessoas, mesmo diante de autoridade de saúde afirmarem a necessidade de termos cuidado com o coronavírus. Vemos muitas vezes esta dissonância cognitiva se manifestando, em seu desconforto, diante de óbvios científicos, mas muitos insistem em tentar aplaca-los, como, por exemplo, ver que o Covid-19 está matando mundo afora, mas alguns insistirem em chamar de gripezinha, ou chamar insistentemente o natural medo das pessoas, diante de algo inusitado, que gera estresse, de histeria, principalmente quando a fala parte de uma autoridade.
Aos que guardam dissonância cognitiva o melhor caminho será sempre o de reconhecer, in casu, o que pontua a ciência, mesmo que isto signifique fugir de valores das suas escolhas ideológicas políticas e ou religiosas. A isso chamamos de bom senso. Dar o chamado braço a torcer contra determinadas ações dos seus líderes não significa franqueza, mas sim saúde emocional, na manutenção dos seus valores em confronto com as questões exteriores da sociedade. Insistir no conflito só gerará mais e mais desajuste, porquanto ao fundo a pessoa sabe que se encontra enganada, quando a questão é autoevidente e de consenso.
Todas as respostas para as nossas cegueiras e ou fugas do evidente estão dentro de nós. É preciso, no entanto, coragem, ousadia para nos confrontarmos, na formação dos nossos valores, mas nos afastando de fanatismo de qualquer natureza e origem. Seremos sempre os responsáveis por aquilo que vivemos em nossas construções de fantasia ou de realidade, pois o que negamos nos submete e o que nós aceitamos nos transforma, disse Yung, pois paixão é fogo sem luz.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz.