É de se lamentar profundamente quando vemos que pessoas despreparadas, tendo no “achismo” e em seus preconceitos, alguns por ignorância, outros fabricados por interesses eleitoreiros e pela ortodoxia religiosa, a base para impedir avanços educacionais no campo do respeito à diversidade, inclusive sexual, como forma de tirar do sensato a vida cidadã de uma sociedade laica. Infelizmente princípios de fanatismo religioso têm força política nacional, inclusive porque geralmente os ocupantes do Executivo bajulam os votos – que não são poucos, é verdade – de segmentos religiosos que alimentam a ignorância, desestruturam princípios de uma fé sadia.
Triste ver a religião interferir em ações de educação, principalmente no campo da reflexão das diferenças de gênero, a serem aplicadas como instrumento de ensino nas escolas. A norte-americana Marlene Winell, doutora em desenvolvimento humano e estudos da família, tem se debruçado sobre danos causados em pessoas com ideais religiosos calçados no fanatismo, de forma que criou o termo “síndrome do trauma religioso”, STR (na sigla em português), para classificar os sintomas de pacientes que sofrem, digamos, de alienação do sensato, em decorrência de pregações desconexas de religiões fundamentalistas e fanatizadoras. Propõem estas religiões, ou os seus líderes, afirma a estudiosa, um autoritarismo ligado a uma visão restrita de boas teologias, a fim de convencer o absurdo como plausível. Chega mesmo a vaticinar que “os ensinamentos e práticas religiosas ortodoxas e fundamentalistas podem causar danos graves na saúde mental”.
Estamos vendo, infelizmente, no Brasil, o avanço de uma inserção insidiosa de princípios religiosos contaminados por falta de saber acadêmico, ditando desconstrução de um ideal de edificação de uma sociedade cidadã, que deve ser laica, sem interferência do religioso nos assuntos de Estado. Tudo muito lamentável, por quanto se trata de uma pretensão ditatorial anômala à democracia.