Pois é, ao acompanhar o desenrolar das etapas de todo o jogo de poder e dinheiro que vemos em capítulos à semelhança da série The House of Cards, da Netflix, o Brasil vê desfilar a sua vergonha nacional, e ser objeto de ridicularização, como recentemente aconteceu no site do The Guardian. Tudo muito lamentável, e o pior: parece que estamos perdendo a força da indignação. Algo letárgico, um talvez... não tenha jeito mesmo, vem se estabelecendo, como aura no nosso país.
Inspirado por um texto atribuído ao ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, fico constatando com grande tristeza: apenas um país profundamente esbagaçado em seus valores vê, em rede nacional, um agora ex-deputado correndo, pateticamente, com uma mala cheia de dinheiro, e poucos com veemência reagem àquela pantomima da corrupção; somente em um país profundamente devastado pela decepção e constatação do comportamento aético, mesmo criminoso, de os seus pretensos líderes, vê um presidente em conluio para crimes, e constata uma legião de defensores lutando de todas as formas para mantê-lo no cargo, pouco se importando com a mensagem que se passa de uma republiqueta ditatorial de ladravazes; só em um país que não se respeita, os seus governantes mentem, mentem... na esperança de fazer valer o princípio do propagandista nazista, Joseph Goebbels, quando afirmava que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade. E assim vamos assistindo a esta série que bem poderia se chamar House of Brasil.
E tudo isso, infelizmente, faz diagnosticar a profunda enfermidade moral que, purulenta, contamina o sentido de essencialidade cidadã de uma sociedade, em seu maior aspecto. Vê-se a sua cidadania desrespeitada, os seus princípios deteriorando e o sentimento de pertencimento gerando vergonha. Tudo cria uma enorme sensação de impotência. Não podemos deixar de reagir, de irresignarmos, a fim de que a geração de nossos filhos não desista de viver a grandeza de ideais democráticos, na constru- ção de futuros dirigentes honestos. Caso contrário, tudo só irá piorar, visto que a geração que governará nossa Nação amanhã está sendo formada agora. E como será que está sendo? Aí reside o que o sociólogo Durkheim chamou de fato social, ou seja, um conjunto de formas de agir, de pensar e sentir que gera força de opressão sobre os indivíduos, obrigando-os a aceitar as regras da sociedade onde vivem, pura e simplesmente da forma que é. Em verdade, não se trata de algo imposto, são situações, condutas, normas que estão presentes no seu dia a dia, de tal forma insistentes, que terminam não dando margem a novas escolhas, que fujam ao padrão vigente. Não podemos deixar que isso aconteça. Este país não pode continuar assim.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz