A pedagoga Maria Lucia Gulassa considera que o processo de negligência do Estado, em seu todo, para com as crianças abandonadas ou em risco social é um verdadeiro crime de lesa pátria, pois se está roubando a possível harmonia da sociedade futura. Os gestores de abrigos são unânimes em dizer que sua vida é pedir. Percebem-se num lugar incômodo, não-profissionalizado, de receptores de caridade. Sentem-se desconfortáveis, identificados com a pobreza. Ao se perceberem nesse papel, procuram um novo lugar de pertencimento, cidadania. Procuram um lugar de direito. O abrigo é lei, é direito à cidadania. Não é concessão, favor ou caridade. É obrigação do Estado, gostem ou não.
Vemos, no entanto, uma total desconsideração, desrespeito aos que assumimos compromisso com a criança e o adolescente em desamparo. Não existe rede de abrigo do governo, em nenhuma esfera: municipal, estadual ou federal. Toda, disse toda, a rede de abrigo - já foi orfanato, agora falam de acolhimento, como se mudando o nome se tornasse mais leve o problema - está em mãos de instituições filantrópicas ou religiosas, sem que haja sequer o reconhecimento de quem está fazendo. Se os abrigos resolvessem todos colocar suas crianças e adolescentes nas portas das prefeituras e governadorias, eles não teriam o que fazer com esses milhares de exilados brasileiros da cidadania. Por que, então, não cuidam bem?
O MP Estadual da Bahia impetrou ação contra a Prefeitura de Salvador por falta de repasse de recurso a diversos abrigos. Houve determinação judicial para pagar, ela recorreu, não pagou. Alega problemas de irregularidade de documentação de algumas instituições; balela, desculpa.
A Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza da Bahia busca se manter em dia em seus repasses, mas a da Fazenda resolve contigenciar, economizar dinheiro sobre os orfanatos.
Sou otimista pela vontade, mas pessimista pela realidade diante do que vejo de abandono aos orfanatos, abrigos, casa de acolhimento ou o que seja. Realmente, estão cometendo um crime.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz