Amanhã acontecerá a tradicional Lavagem do Bonfim, fazendo prevalecer o princípio de que “quem tem fé vai a pé” e milhares vão, em especial os políticos. Chama-me a atenção, no entanto, que todos querem chegar ao adro da Igreja e receber as águas de cheiro, espargidas pelas filhas e mães de Santo, é aí que eu me pergunto: onde estão estes milhares quando o Candomblé, religião que representa vivamente a manifestação, sofre intolerância? Onde estas cabeças que querem bênçãos das Yas estão, quando os terreiros delas são invadidos?
É natural este nosso sincretismo, este jeito bem baiano de ser: é a riqueza de nossa gente, de nossa cultura. O Candomblé comanda, os cristãos não-dogmáticos se rendem. Por esse e outros motivos, precisamos ser mais cristãos e menos pregadores de conveniências e recalques. Alguém já disse que estamos vivendo momentos estranhos, esquisitos, inclusive na seara dos que se dizem cristãos. Ódio disseminado em comentários; bocas que proclamam o amor de Cristo, mas que vociferam anátemas contra homossexuais e outros seres humanos, em seus direito de ser. Onde Cristo está nestas pessoas?
Faz muitos anos fui presenteado, por uma amiga dirigente espírita, com o livro do protestante Charles Sheldon, “Em seus passos, o que faria Jesus?”. No livro, os membros de uma igreja começam a se perguntar “O que Jesus faria?”, antes de cada atitude a ser tomada e começam a ver a diferença que isso faz. Precisamos nos perguntar exatamente isso. Será que Jesus condenaria a Lavagem, ou iria montado em um burrico? Iria certamente andando, já que burros estão proibidos. Nos dias atuais como faria Ele: tomaria em seus braços os menos favorecidos?
Fazendo ainda valer o quando fizeres a um destes pequeninos irmãos a mim o fizestes; Jesus acolheu os rejeitados, demonstrando amor pelos desprezados da sociedade, chamando um cobrador de impostos para ser discípulo; perdoou sempre com o seu amor, haja vista a mulher adúltera; não discriminou, aceitou a rica Joana, que era esposa de Cuza, procurador de Herodes Antipas; apresenta-se depois da morte por primeira vez àquela que teria sido prostituta, Maria de Magadala.
Vejo, porém, a Sua força arrebatadora quando confronta a hipocrisia, pronunciando contra pessoas que falam em nome de Deus para ferir outras. Ele, não. Afirmou o Seu, nosso Deus cheio de compaixão e misericórdia. Esse é o Jesus que vejo, sinto, e nada, nem ninguém fará mudar o meu entendimento sobre esta força. Sejamos, então, mais realmente cristãos e não os velhos de sempre: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança”. Então, como Jesus faria nos dias atuais?
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz