Pois é, aí está uma notícia que dignifica toda a Bahia lúcida. Vinte dias após a morte do querido Ubiratan Castro, escrevia aqui (23.1) um artigo sugerindo o nome de Mãe Stella para sucedê-lo na Academia de Letras da Bahia.
Frustrei-me, pois não vi repercussão alguma, nenhum outro artigo neste jornal, inclusive dos movimentos negros. Nada. O que me chegou foram inúmeras críticas pela sugestão. Recebi alguns e-mails refutando as minhas considerações, afirmando que na Bahia havia pessoas com mais credenciamentos, escritores mais festejados e outras bobajadas que não dei importância.
Fui, no entanto, surpreendido na semana passada com a notícia de que ela foi eleita por unanimidade. Naturalmente que, quando o artigo foi publicado, pessoas influentes, de alicerce acadêmico forte já estavam nesse propósito, ainda que não soubesse.
Não guardo amizade com a sacerdotisa, só a encontrei socialmente poucas vezes, mas julguei que a sua eleição seria uma boa demonstração aos "infelicianos" da época, de que aqui na Bahia precisamos caminhar em outra direção, direcionados pela bússola do respeito. Sem falar, naturalmente, do merecido e justo reconhecimento dos méritos da yalorixá.
A eleição de Mãe Stella se reveste de uma simbologia divina, tendo assento na cadeira com o nome de Castro Alves, em sucessão ao grande intelectual de valorização da cultura negra nacional, Ubiratan Castro. A sacerdotisa, agora, reluz como arauto de dignificação a toda uma religião que ainda perseguida e atacada se vê em dias de urgência para abolição de preconceitos.
Penso que já chegou a hora de os candomblecistas, peço vênia, abrirem mão do sincretismo para a efetivação de uma fé lídima, sem a necessidade de se apoiarem em divindades já aceitas em outra religião, ou muito menos a ela se vincular para vivenciar publicamente o seu crer.