Li, aqui em A TARDE, que o prefeito João Henrique, no ato de filiação ao seu novo partido, recorreu a passagem bíblica (livro de Romanos) para dizer que as autoridades públicas "são escolhidas pela vontade de Deus" e, ao relacionar o governador a uma "escolha Divina", mandou recado aos adversários: "Não adianta ninguém tentar intrigar o PP e o governador. Se Deus escolheu o governador Jaques Wagner para governar a Bahia, nós somos obedientes à vontade de Deus”. De pronto, eu imagino que ele ruborizou o pastor que o abençoou na oportunidade, pois candidato a prefeito de Salvador que foi, perdeu. Logo, pela lógica de João, Deus não o quis.
Nessas palavras anistóricas do prefeito, o que se evidencia é o uso do simbólico religioso em tentativa antidemocrática esquisita, e aí o prefeito bem ilustra o poder na crítica de Max Weber que se concebe como o mais adequado ao dito, pois na evidência de um possível fracasso de um governante e na sua justificativa de mando, o indivíduo consegue impor a sua autoridade aos demais, que poderiam opor ou não resistência, a fim de legitimar o seu “status quo”, através do argumento religioso, para dispor de um campo de valores plenamente assumido e consolidado numa cidadania religiosa de cabresto, voltada para evitar o aparecimento de focos de contestação, que pode ser fanatizada, mas que gera respeito, obediência, lealdade e identificação com os “escolhidos”.
Razão, então, assiste a Marx e Engels que traçam um esquema evolucionista e de superestrutura ideológica, onde, nesse sentido, religião é interpretada como a forma básica de alienação e a primeira manifestação de ideologia manipulada para legitimação de poder.
É preciso, no entanto, que os governantes, em geral, que guardam as suas ideologias de oportunismo, não se esqueçam de combinar tudo direitinho com toda a gente, uma vez que não estamos no absolutismo e sim em uma democracia, e aí, a bem da verdade, para o mal ou para o bem, a vontade foi nossa: o povo, empregador de todos os políticos, cabendo-nos, assim, a cobrança de tudo.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz