Em momentos como estes, que vemos centenas de pessoas morrerem pela bravia da natureza no Rio de Janeiro, é natural que questionemos a presença divina em tais calamidades. Não posso, no entanto, creditar tudo a um processo puro e simples de resgate. Calma! Sei que, na situação em que nos encontramos nesta terra, sofremos os reveses de ontem, mas dou muita crença ao que o espírito Carlos Murion me disse em certa oportunidade:
“Só em se encontrar na Terra, o espírito já está sujeito a tudo, a qualquer momento, pois em seu passado sempre há algo por expiar, na situação em que se coloca”.
Isso, todavia, não quer dizer que tínhamos que passar pela situação de desvario. Claro que não! Haverá de se encarar o livre arbítrio, em atos de desatino, onde se tira a vida, violam-se integridades morais e físicas por psicopatologias, maldade, negligência e / ou falta de intenção.
O padrasto enfia diversas agulhas no seu enteado - era reajuste do garoto? Não vejo necessariamente assim. Foi a maldade do vilipendiador, pois a ninguém é dado vir ao mundo para exercer, em nome da justiça divina, a maldade. O livre arbítrio o fez cometer a atrocidade.
Em Obras Póstumas, o espírito Clélia Duplantier, esclarece que “é preciso ver o homem sob três aspectos: o indivíduo, o membro da família e, finalmente, o cidadão. Sob cada um desses aspectos, ele pode ser criminoso ou virtuoso. Em razão disso, existem as faltas do indivíduo, as da família e as da nação. Cada uma dessas faltas, qualquer que seja o aspecto, pode ser reparada pela aplicação da mesma lei”. Ora, fica claro que a omissão cidadã, de governantes e civis comuns, também está inserida neste contexto. Sendo assim, a tragédia anunciada do Rio de Janeiro passa pela incúria de governantes que, sabendo ser zonas de risco onde moradores estavam vivendo, e nada fizeram por leniência ou medo de impopularidade, guarda grande responsabilidade.
Da mesma forma os moradores, que tendo conhecimento mas se mantiveram em lugares arriscados, têm suas responsabilidades, ainda que as alegativas sejam de falta de recurso, proximidade do trabalho, dentre outras. É necessário, porém, que não creditemos o tal viés do conformismo “tinha que ser assim”, era o carma de toda aquela gente. Não. Termina por se creditar às leis divinas a condição de crueldade, onde se “estimularia” a negligência de governos à fuga de suas responsabilidades, porque aquela situação teria que acontecer.
Não há ingênuos e injustiçados nesta vida, mas há, sim, os processos que nascem agora para acertos amanhã. Inclusive porque não existe o destino, como algo determinado, inexorável onde ou vai ou vai. Cada amanhã é construído no hoje, em processo de desencadeamento dos nossos pensamentos, ações, aplicações.
Do exposto, concluo que em nossa atuação cidadã não poderemos deixar de buscar os nossos direitos, exigir dos governantes suas ações e responsabilidades, sem, todavia, esquecer os nossos deveres por menores que sejam.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz