O país está enxugando as lágrimas pelas perdas de dezenas de vidas com a queda do avião da empresa boliviana Lamia. Toda morte inesperada tende a gerar grande comoção, principalmente quando de jovens desenhando sucesso profissional. Em verdade, a morte por si só já gera inquietude e desconforto, pela crença de muitos na finitude, na interrupção da vida de ralação. Nesse momento, a fim de atenuar a avassaladora perda, muitos tentam encontrar respostas, consolo, não raro nas religiões, a fim de, na impossibilidade de exclusão da dor, pelo menos mitigá-la.
Nessas ocasiões, geralmente o espiritismo é buscado para respostas ou mesmo como um ombro, em palavra de consolação. Aprendi, no entanto, que poderemos consolar, mas sem perder o foco da realidade, na compreensão do fato, sem deixar de lado o apoio, a solidariedade.
Nessa tragédia em desolação nacional, pessoalmente não concebo como algo que “deveria acontecer”. “Foi um carma coletivo”. Não. Entendo que no manejo do livre-arbítrio, o homem age de forma absolutamente livre diante das Leis Divinas, assumindo, no entanto, as suas consequências. Não vejo um Deus ou mesmo Suas Leis buscando pessoas para serem irresponsáveis e com seus atos e/ou omissões fazerem cumprir, por exemplo, um carma.
Aprendi que, só por estarmos nesta vida, estamos à mercê, também, dos que nos rodeiam para o bem ou para o mal, a isto é que falamos que não há o acaso, mas há sim as deliberações de motu próprio, de inconsequentes, criminosos e/ou mesmo gananciosos. As mortes trágicas que o Brasil até hoje chora não tinham que ter acontecido, mas, conforme as investigações dizem até agora, foi a decisão de um homem, em não abastecer a sua aeronave adequadamente, que entrou em emergência e, mesmo com a chance de dizer o que estava acontecendo, calou-se, com possível receio de ser apenado em alta multa, ou mesmo com a possibilidade de ter a sua empresa embargada. Não me parece, então, crível que a vida tivesse programado alguém para que tal atitude tivesse, que se tornasse algoz de dezenas de pessoas.
Mas ainda surge a questão dos sobreviventes, infelizmente um número tão baixo, aí deixamos para a física, para a engenharia mecânica, que poderá dizer a repercussão do impacto de uma batida e o deslocamento de sua onda de danos para esta ou aquela direção. Os que sobreviveram não estavam em regime de privilégio, mas talvez em localização no avião que os favoreceram, e os que não embarcaram, simplesmente não embarcaram. Creio que o levar o nada acontece por acaso ao pé da letra é temerário, posto que nos vacinamos, tomamos antibióticos, combatemos o Aedes aegypti e não ficamos na confiança do que o que tiver de ser será. Ainda bem.
José Medrado,
Mestre em Família pela UCSal
Fundador e Presidente da Cidade da Luz