O presidente Jair Bolsonaro até procura se esforçar para tirar sobre si a pecha de homofóbico, ao que tudo indica o desagrada. Mas fica difícil, pois não demora muito e ele cai em suas próprias armadilhas verbais, ou não. Recentemente, afirmou que o Brasil não é “paraíso gay”, mas “quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade”. “O Brasil não pode ser um país do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias”, disse. Ora, ora,presidente, qual foi a sua intenção com a insensatez da colocação? As reações, naturalmente, vieram e uma delas de mais repercussão no exterior foi a do escritor Paulo Coelho, autor brasileiro mais traduzido no mundo (pessoalmente não sou apreciador da sua literatura), que se manifestou em um post escrito em inglês: “As mulheres brasileiras não são mercadoria. O turismo sexual não é motivo para visitar o Brasil“.
Honestamente, não creio que o presidente quis dizer isso, mas pareceu que em desqualificar um aspecto que é evidente em seus conceitos, ele improvisa e se expõe no que, entendo, não cabe a um presidente de toda uma nação plural, a fina ele mesmo disse, logo após ganhar as eleições, que seria o presidente de todos.. Aí o bicho pega, pois ele continua pregando para convertidos.
O presidente, de outra parte, ao fazer remissão ao conceito ultrapassado de família, ignorando decisão unânime do Supremo Tribunal Federal, em 05.05.2011, onde reconhece a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Logo, temos, sim, presidente, famílias homoafetivas também, em garantias constitucionais. A instituição da família homoafetiva também foi consolidada pelo mesmo Supremo Tribunal Federal, quando em 2015, reconheceu a adoção de crianças por casal gay.
Não podemos retroceder em conquistas cidadãs que amparam o povo brasileiro em sua diversidade e constituição. As minhas questões pessoais, sejam elas de que natureza forem: ideológicas políticas, religiosas, familiares...são minhas, não posso impô-las a uma sociedade, na presunção de que a minha forma de pensar é a melhor para toda uma nação. A questão de cidadania não pode estar sob crivo de valores pessoais, mas em respaldo ao direito de um povo, em suas idiossincrasias, cultura, costumes, mas também em avanços civis. Um país se firma como democrático quando valores diferentes se enfeixam em uma força de coesão, ainda que com divergências conceituais. Democracia é governo para todos, não para específicos segmentos.
*José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Escreve para o BNews às segundas-feiras.