Em outubro deste ano, o governador Jaques Wagner deu uma brilhante entrevista ao programa Roda Viva. Não fugiu a qualquer questionamento, respondendo a tudo com muita tranquilidade, propriedade e sinceridade. Houve um momento, em especial, que me chamou muito a atenção, foi quando disse ipsis verbis: “Eu acho extremamente complicado misturar fé e política; Igreja e Estado.
Já ultrapassamos esta fase lá atrás, quando a gente diz que o Estado é laico, a gente separou.” Perfeito, inclusive em se tratando de um judeu, que sabe das atrocidades e discriminações pelas quais passaram os profitentes de sua fé. No entanto, permita-me, governador, penso que os seus subordinados estão agindo de outra forma.
A TV E voltou a abrir espaço para a cobertura, ao vivo, de missas aos domingos, sem que outras religiões tenham o mesmo espaço. Nada contra a transmissão da missa, mas também gostaria de ver transmitidas as minhas palestras; de ver festas e cultos do candomblé, do budismo, do judaísmo, enfim, de que todos tivéssemos os mesmos direitos. Provoquei, há algum tempo, o Ministério Público da Bahia, a fim de que abrissem espaços para todos, não apenas para um segmento religioso. Alegaram que não poderia, não havia grade. Saiu a missa, mas agora voltou. A verdade, no entanto, é que a TVE não respeita a laicidade do Estado, privilegiando e gastando o dinheiro público apenas com uma religião.
A discussão não gira em cima da concessão pura e simples, pois todas as emissoras são concessionárias do governo, mas porque, no caso da TVE, é por ser pública. Os salários pagos e equipamentos comprados das outras emissoras o são com o dinheiro privado dos seus associados, donos da concessão, dos anúncios; mas, no da TV Educativa, é tudo do governo da Bahia, dos cofres público, inclusive porque não se pode pagar por espaço ou mesmo anúncios. O governo da Bahia está custeando proselitismo para uma religião. Prossiga-se com a transmissão da missa, mas também quero, por direito cidadão, que passe na TVE o culto de outras religiões, inclusive da minha.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz