Estamos vivendo em uma sociedade onde o prazer e a satisfação são permanentemente alimentados, gerando um nível muito baixo de suportação de reveses e ou contrariedade. Vimos, assim, que os mais apaixonados correligionários do candidato derrotado à presidência da República ficaram frustrados com o resultado das urnas. A partir daí houve um recrudescimento dos ataques contra o eleito e, naturalmente, os seus eleitores, em uma espécie de desabafo sem sentido, tipo: vocês não sabem votar. Não foi o que eles queriam.
É sabido que a frustração é o sentimento que surge quando não realizamos um desejo ou uma necessidade pessoal. É a reação a uma expectativa não correspondida. Em resumo: frustração é o sentimento que surge quando algo que queremos ou esperamos não acontece. Essa não satisfação do desejo gera uma espécie de tensão interna e com uma sensação de tristeza e aborrecimento ou, em alguns casos, de desespero, zanga que não trabalhados tendem a fomentar hostilidades, agressões.
É preciso fortalecer sempre as possibilidades de os acontecimentos fugirem às nossas programações, fazendo resiliência e buscando a dissipação do ressentimento, a fim de não nos perdermos nas inquietudes do que não depende só de nós para acontecer. Nesse sentido, não é evitando as frustrações, mas aprendendo a lhe dar com as dificuldades de aceitação, que se encontra tranquilidade para a adaptação da melhor maneira às mudanças que ocorrem em volta, ressignificando a realidade.
Em termos sociais, a inadaptação a um acontecimento poderá fazer crescer uma grande onda de revanchismo e se não contida, por cada um e pela coletividade, poderá manter o clima de rivalidade, que tanto caracterizou o período ante das eleições.
Os caminhos de extravasamento do que não foi digerido, por força de uma baixa capacidade de assimilação da frustração, precisa ser policiado, pois agora precisamos nos entender todos brasileiros.
A saúde metal de uma sociedade, em geral, está muito associada às suas reações, em face aos reveses do dia a dia, transformando o possível em viabilidade concreta e o difícil em aceitação sem rancor. Dessa forma, apesar de parecer um sentimento muito associado ao fracasso, a frustração é de grande importância para a constituição psicológica individual e, em consequência, da própria sociedade em um todo, pois ela gera dispositivos de aceitação muito importante na vida de relações. Assumir, também, a frustração não significa derrota, mas reestruturação de novos caminhos, de novas formas de ação com o fito nos ideais abraçados. Perder ou ganhar faz parte do jogo democrático, onde a maioria precisa ser respeitada. Aprendamos, em tão, a ganhar sem tripudiar e a perder sem desequilibrar.
José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz