Geralmente, caro leitor, escrevo sobre religião em coluna própria, no Caderno Populares aqui de A TARDE, mas não me contive, nesta oportunidade, após ler aqui mesmo, no último domingo, matéria sobre intolerância religiosa denunciada por um juiz de Sergipe. Chamou-me atenção porque foi uma reação de um magistrado espírita, frente a agressões perpetradas por um pároco católico que agride espíritas que frequentam a “sua” igreja.
Infelizmente, e me ressinto disto, o movimento espírita sempre foi muito omisso diante de ações cidadãs, que deveriam vislumbrar interesses coletivos, independentemente de questões religiosas ou mesmo a elas relacionadas. Nunca houve, que triste, uma palavra de repúdio à ditadura militar, muito menos uma ação concreta que evidenciasse algum rechaço àqueles que perseguiram, mataram tantos por uma ideologia falaciosa. Os líderes espíritas de então se encastelaram em seus medos, conveniências ou não sei o quê, mas não nos deram exemplos como os de D. Hélder Câmara , D. Pedro Casaldáliga e D. Evaristos Arns.
Documentos guardados há décadas em Genebra obtidos pelo Estado brasileiro revelam como o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, por exemplo, liderou um lobby internacional, coletou fundos de forma sigilosa e manteve encontros com líderes no exterior para alertar sobre as violações aos direitos humanos no Brasil. Orgulho para todos os brasileiros. Não me ocorre, infelizmente, reação alguma contra qualquer ação de interesse cidadão por parte das organizações ditas como oficiais do espiritismo no Brasil.
Nunca, por outro lado, também, uma palavra contra as perseguições encetadas às religiões de matriz africana. Muito pelo contrário, muitas vezes se aderia aos preconceitos e impediam entidades que transitavam nessa área frequentassem as fileiras espíritas. Assim, quando vi essa reação, exultei. Por fim, começam os espíritas a terem uma visão cidadã, fora da acomodada omissão de não se indispor com nada. Esse nunca foi, nem será o meu entendimento, pois não concebo valores cristãos sem passarem pelo direito cidadão de ser.