Neste último fim de semana, estava em casa zapiando esses canais fechados, não lembro agora qual, quando me deparei com o anúncio do programa do tal Mister M, aquele mágico mascarado que revela os truques de ilusionismo que vemos por aí. O que me chamou, no entanto, a atenção foram os caracteres que estavam na abertura do programa, entre outras coisas diziam que os truques espíritas seriam revelados. Fiquei indignado, porque esse tipo de argumento era o mesmo utilizado no século XIX, na era de Harry Houdini, escapista que também atuou como um desenganador, ou seja, desmascarando pessoas que alegavam possuir poderes sobrenaturais, inclusive médiuns espíritas. O que, inclusive, fez muito.
Pus-me, então, a questionar o que de fato estamos fazendo com o Espiritismo em sua real divulgação, pois como pode em pleno curso do século XXI ainda vermos anúncios veiculados no século XIX sobre os fenômenos mediúnicos? De uma coisa tenho absoluta certeza: ainda existem, sim, os fraudadores em nossas fileiras, que enganam, mistificam com o fito de mais impressionar, de se colocarem como os “especiais eleitos”. E a outra coisa, sem dúvidas, é que nos preocupamos muito com a vida doutrinária intramuros.
Fazemos espiritismo para quem já é espírita, sem a preocupação de atualizarmos a forma, criarmos atrativo de convencimento. Ficamos com as mesmas histórias de sempre, falando de Katie King e William Cook, pois, ainda que pese o dado histórico relevante das pesquisas e investigações, a solicitação contemporânea é outra: o imediato da resposta lógica, sensata, com sentido. As pessoas não mais vivem uma fé de ouviu, acreditou. Não. Querem apenas ler a legenda da foto, as letras da manchete, infelizmente. Não podemos, então, fingir que o mundo não está assim e ficar no mesmo rami-rami de sempre, sem inovação.
Vamos acabar com aquela falácia de que “não nos preocupamos com quantidade e sim qualidade”. Bobagem. A questão não passa pelo número, pelos “acotovelamentos” de pessoas em eventos, mas de como estamos desempenhando o nosso papel de veicular, levar consolação. E, naturalmente, aí o número falará realmente por si, claro. Se não causo interesse, se as pessoas não buscam, algo está errado, pois o Espiritismo possui um excelente material de informação, explicação, orientação e, se não consigo viabilizar isso, algo precisa ser revisto.
É bem verdade, também, que muitos companheiros adoram deitar verborreia de erudição, falando, muitas vezes, o que ninguém entende. Puro desserviço. Já não estamos mais na época do “fulano fala difícil”, mas ninguém entende. O momento é da praticidade, da comunicação rápida, precisa, verdadeira, sem hipocrisias e superpoderes.
Talvez o tal mascarado ainda esteja pensando que médiuns fazem, hoje em dia, o que faziam diversos no século XIX, ou talvez porque fazem mesmo.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz