Sou um homem com alegria na alma, mas vivo, muitas vezes, a angústia de perceber o mundo com suas distorções, egoísmos, descasos e maldades, mas procuro entender, como bem disse José Saramago: “Cada um de nós é este pouco e este muito, esta bondade e esta maldade, esta paz e esta guerra, revolta e mansidão”. Fato, principalmente quando se vive o desafio do autoconhecimento e de construir uma razão crítica do seu entorno.
Acredito que no Brasil se montou uma estrutura de autorreconhecimento como povo de forma alienada, confundindo-nos com conceitos apáticos, não patrióticos. Assim, entendo, fomos convencidos a não sermos “causadores de problemas”, desde as menores questões, usando: “Deixe para lá, para que isto? Não vai adiantar nada”, até as relacionadas aos anseios nacionais. Tornamo-nos um povo desnutrido de ideal, de patriotismo. No entanto, em 2013 um vento forte soprou e o sermos pacíficos não guardou sinônimo em sermos omissos. Passa-se a falar, discutir que a corrupção no Brasil é sistêmica. São desvios estratosféricos. Discute-se agora por todos os lados as perdas, pelos roubos, na educação, saúde... mas parece que a visualização fica meio que fria, distante, mas quando se chega a evidenciar dados reais à nossa frente, vemos o quanto tudo é hediondo: o Samu de Goiás, como foi denunciado recentemente, mostra que a propina não é mais colocada como metáfora de consequência, mas, sim, como pelotão de morte, em vista da usurpação, do roubo, piora o estado de saúde de um socorrido para ganhar mais com o atendimento.
Continuamos, no entanto, vendo pelas redes sociais as velhas brigas de fãs em defesa de ídolos, ficando de lado as consequências das práticas de tudo isto, em dor, miséria e agora possíveis mortes. A omissão é uma escolha dos que não se sentemcomprometidos como seu entorno, por vezes minimizando crimes, anestesiando a si e aos seus, mas o fato é que na nossa omissão continuamos estimulando os malfeitores da vida público.