Em 1984, quando da minha colação de grau em Letras, pela Universidade Católica, fui distinguido pelos meus colegas, com a incumbência de ser o orador da turma. Não transigi, ao lado de outros amigos, em a solenidade ter um culto inter-religioso. Fato inusitado para a época. Não era de forma alguma comum a propositura, mas já me animava a alma a ideia de respeito à diversidade, ao convergir nos pontos comuns e não tocar nos que gerariam divergências.
Confesso, no entanto, que àquela época não conseguimos levar um representante do candomblé. Houve grande resistência contrária. Assim, a vitória foi parcial, pois só três religiões foram representadas: a católica, a evangélica e naturalmente a espírita.
Faço este breve relato para frisar o aniversário da Cidade da Luz na terça retrasada, quando estivemos juntos católicos, espíritas, candomblecistas, muçulmanos e evangélicos. Naquele momento todos ali presentes reforçamos as nossas emoções e convicções, vendo e ouvindo cada um dando a sua mensagem, falando da paz, do entendimento.
Não pude reter uma onda crescente de reforço à minha constatação de que tudo é possível, quando nos emprenhamos em um real ideal. E que este ideal não seja tisnado por circunstâncias passageiras. A busca da consciência cidadã deve ser exercício permanente, sem prazo de validade, na formação de novos valores pelo exemplo verdadeiro, sem dissimulações ou interpretações para “inglês ver”.
Entendo, dessa forma, que não devemos tratar as questões de respeito, de igualdade, como teorias que grassam sob a aceitação do politicamente correto, mas de oferecer um contraditório prático, real, de que será sempre possível conciliar, mesmo aparentes paradoxos, sob o manto da boa convivência, as escolhas pessoais de uma sociedade que é rica culturalmente, exatamente pelo grande leque de ser da sua gente. E tudo isso nasce pela educação, em permanentes campanhas de esclarecimento, jamais pela catequese, ou aulas de religião nas escolas.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSal e fundador da Cidade da Luz