Vimos semana passada um espetáculo que muitos aplaudiram, posto que acharam que as prisões de Sérgio Cabral e Garotinho expressavam uma satisfação cidadã geral. Outros, porém, questionaram os excessos acontecidos, em especial no que diz respeito a um problema de saúde de um dos detidos.
Em momento que vi, no entanto, de um lado, o desespero da mulher e filha de um dos presos, que evidenciava pânico quando da sua transferência para o cárcere, imaginando que aquilo não aconteceria, apesar de haver a possibilidade, uma vez que áudios divulgados remontaram a ações para evitar tal desdobramento. Já do outro, fotos vazaram com roupa do presídio, em pose fotográfica de bandido, com cabelo cortado e expressão de “casa caiu”.
Pus-me, então, a perguntar se àquela altura, humilhados, eles refletiam se o que fizeram compensou por tudo pelo que estavam passando e fazendo as famílias passarem? É possível que sim, porque ainda se aposta, por arrogância, no poder político e econômico como esteio na impunidade.
É fato que a insatisfação é uma das condicionantes dos seres humanos, na busca contínua do mais. Distinga-se, porém, de pronto, que nesta procura há diferença de ação entre ambição e ganância. Alguém disse que ambição é mola propulsora de realizações e conquistas, e, por conseguinte, se encontra no elenco de qualidades humanas; já a ganância foge dos parâmetros de valores positivos, estabelecendo-se entre os defeitos de caráter. A ambição constrói possibilidades legítimas, a ganância destrói o que pode ser impeditivo ao alcance de metas eleitas como marca de chegada, em equivocado conceito de vitória. O ambicioso não se preocupa, em geral, com a vitória do outro, ele quer também o pódio; já o ganancioso quer devorar tudo para si, e o outro pode servir apenas como escada ou cúmplice, sem qualquer vínculo de ética.
É neste espetáculo deprimente que estamos vendo homens “poderosos” caindo em suas próprias redes de vilania e desonestidade, onde a queda, em efeito dominó, de devedores da justiça se estabelece para o regozijo, muitas vezes até meio sádico, de alguns expectadores que também guardam lá os seus pecadilhos de desonestidade, no dia a dia cidadão. É certo que faz bem, sim, ver que não existe um Olimpo brasileiro, e sim um país com sede, em alguns momentos até sanha, de reestruturação de valores de cidadania.
Acompanho, contudo, as posições de amigos e analistas dos mais variados segmentos da sociedade em um vale-tudo discursivo de defesa dos seus admirados, de forma tal que os crimes ficam de fora, nada interessa a não ser passar a bola, ou melhor, as algemas, para o outro lado.
Li recentemente que a honestidade não deixa pessoa alguma rica, mas deixa livre...
José Medrado,
Mestre em Família pela UCSal
Fundador e Presidente da Cidade da Luz