Há quem pense que desistir de algo significa não ter coragem de ir adiante, vencer dificuldades, passar ao largo dos que se opõem, mas penso diferente: não acho que seja covardia, mas, talvez, por não guardar a convicção na alma, a certeza na mente de que sempre vale a pena ir em busca do seu sonho, do seu ideal, de pelo menos tentar, as pessoas desistem de suas empreitadas, de suas lutas.
Na última sexta-feira, eu refletia sobre essas vitórias que vamos acumulando ao longo da nossa caminhada,
por não desistirmos de tentar. Lá estava eu, diante de um casal, celebrando o seu casamento, quando, trazendo as alianças, vinha minha querida amiga Bernadete Santana, fundadora do Centro Espírita Deus, Luz e Verdade, de grande colocação na nossa sociedade, pelo trabalho kardecista sério, que há décadas vem consolando e conduzindo centenas de pessoas. Ela é avó da noiva. Foi uma lindeza só: aquela senhora octagenária, de impressionante lucidez, querendo abençoar o casal naquele momento de festa, de celebração do amor. Quem em sã consciência haverá de negar que momentos como aqueles não são a tal da parte da felicidade deste mundo, que não é plena?
Ah! Viajei a 2007, quando lutei, me opus a forças, em uma espécie de briga Davi contra Golias, pois tudo quanto é federação espírita se opôs, em campanha ferrenha, com anúncios pagos em jornais e encaminhamento de arrazoados a desembargadores contra o meu pleito. E eu só queria ter o direito constitucional de ver pessoas que se amam serem casadas em sua religião, e esse casamento ter o seu reconhecimento civil. Só queria isso. Não era uma busca por obrigar pessoa alguma a nada, só as que quisessem, dentro do Espiritismo e em outras religiões. Consegui!
Naquele momento, então, eu vi o quanto valeu a pena minha luta. A emoção de Jéssica, a noiva-neta, o tremor de Arnaldo, o noivo. Famílias unidas em torcida e alegria pela felicidade deles... Valeu, sim, a pena. Valeu por eles e pelos já dezenas de casamento que já realizei.
Hoje, o Candomblé, a Umbanda, a União dos Vegetais todas celebram os casamentos de seus seguidores, sendo eles reconhecidos diante da lei.
Pensamentos que geram ações são poderosa arma de libertação, na afirmação de valores de convicção que devemos cultivar, a fim de não vivermos à sombra da vontade, dos pensamentos dos que gostariam de mandar, conduzir os destinos de seu próximo. Essas ações positivas, quando viabilizadas para o outro, se multiplicam, gerando grãos de felicidade e bem-estar ao seu semeador. Sinto-me, assim, hoje, após relembrar o que tive que passar para fazer os sonhos dos outros acontecerem, pois se tornaram o meu sonho também, e, quando mais de um sonha o mesmo sonho, ele se transforma em poderosa força de realização que ninguém poderá se opor, sem o risco de a vida não dar a menor atenção.
Enquanto não se viver, realmente, a fraternidade, a compreensão, seguramente não se respeitará a liberdade de consciência do outro.