Se nada deu diferente do planejado, hoje a Câmara Federal estará se posicionando se autoriza o STF a iniciar processo de investigação do presidente da República, pelo menos é o que está previsto em momento que escrevo este artigo. Não entendo, no entanto, o resultado de pesquisa divulgada no início desta semana.
A perplexidade nasce do que evidenciou uma aferição realizada pelo Datafolha – Folha de S.Paulo, onde para 53% dos entrevistados é melhor para o país que Temer saia, porém para outros 43% dos entrevistados é melhor que o presidente chegue até o final do seu mandato. Essa pesquisa foi realizada entre 25 e 27 de julho.
O que gerou em mim a surpresa foram as justificativas para a sua permanência, isto porque o instituto introduziu o tema, explicando a questão antes da definição da opinião e, segundo a pesquisa, “algumas pessoas dizem que a saída de Michel Temer da presidência neste momento iria agravar a crise política do país e prejudicar a recuperação da economia brasileira”, enquanto outras “discordam e dizem que a saída de Michel Temer neste momento iria ajudar a resolver a crise política e não prejudicaria a recuperação da economia”. O percentual de quem justificava a permanência, entendo elevado. É bem verdade que outra pesquisa, a do Ibope, deu índice de 81% a favor do prosseguimento da investigação.
A permissão não é definição de culpa, de condenação, mas de investigação pura e simples, para se permitir se esclarecer tudo, visto que é o presidente da República e não se deve, entendo, pairar dúvidas sobre sua conduta. Cria-se no país uma largueza muito grande de avaliação de honestidade, a depender de quem seja e do interesse. Penso que a questão não envolve o mais ou menos honesto, mas em honestidade, simplesmente. Estamos criando desvios morais irreparáveis, onde a flexibilização de valores e conceitos sobre condutas e comportamentos estão sendo moldados conforme o autor do desmando, ou o seu poder público de mando.
Não podemos transigir com a dignidade das nossas instituições, tampouco com a grandeza da nossa cidadania. Devemos expurgar o princípio do jeitinho, em arrumar situações, por um tal bem maior, em justificativas compensatórias dos desmandos e comportamentos desalinhados do dever de respeito às futuras gerações a que nos cabe zelar. Precisamos ser transparentes e cristalinos nos bastidores e noites de nossas vidas, pois esse comportamento é que nos definirá como pessoas dignas e honradas. E no geral, como povo civilizado, devemos guardar o sentido de coletividade e nação. Assim, é determinante que nos comprometamos, em lutar pelos valores públicos, como esteio de uma real democracia, cuja existência não se submete a negociatas.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz