Gostaria neste primeiro artigo de 2015 escrever sobre a beleza de um recomeço, mas como não dar atenção a Cauã, um menino de quatro anos que foi baleado pelo namorado da mãe e morreu. Comentei com uma amiga o horror da notícia, e ela simplesmente pontuou: mas foi acidente, o cara queria matar a mãe. Não entendi, foi por acidente, era a mãe que teria que morrer.
Realmente a violência está destruindo, pela frequência de sua sanha, a reação de indignação diante do que é completamente anticivilidade. Pus-me a pensar que estamos de fato nos acostumando à violência, todos nós, fazendo um ranking do que é aceitável ou não. Ora, violência alguma é aceitável, pois ela, sob qualquer manifestação, será sempre uma derrota da convivência sadia em uma sociedade. A violência tem destruído a nossa liberdade. Você que me lê, caro leitor, não é mais livre. Pense nas suas restrições de vida causadas pela violência.
A violência está se estratificando de todas as formas no nosso país, não se trata mais apenas de eventos trágicos, mortes brutais com sangue no asfalto, não. Sofremos violências diárias que já se incorporaram à nossa aceitação e não nos damos conta:
São cirurgias desnecessárias para colocação de próteses e stents por médicos mafiosos; são as violências das regulações do sistema de saúde que geram mortes; é violência o desrespeito que essas multinacionais de energia, telefonia fixa, celular perpetraram contra os consumidores brasileiros, sem que nada, ou muito pouco seja feito, pois os apenamentos judiciários são insignificantes; é a violência dos senhores do poder e seus escândalos de corrupção, sem falar nos que deliberam, determinam e o povo vai sofrendo as suas consequências.
Se para toda ação existe uma reação, que toda a nossa reação seja de ética, de moralidade, de paz, em exemplo e contraponto a tudo isso que está aí. Assim, nada de omissão, acomodação e, pior, entrar no jogo, na lei de Murici. Tomemos cuidado para não irmos para a mesma vala.