A Rede Globo de Televisão na década de 90 exibia um programa interativo – Você Decide. Os episódios se configuravam com casos encenados, que sempre guardavam, como pano de fundo, em geral, uma situação meio que de xeque na ética, cabendo o final aos telespectadores, em participação pelo telefone. Lembro-me com grande nitidez que as situações de oportunismo, de prevalência do desonesto travestido de necessidade preponderavam nas escolhas. Entendia como uma vergonha nacional as opções escolhidas, geralmente para o lado da malandragem, da desonestidade.
Em julho de 2014, o programa Na Moral, apresentado por Pedro Bial, reapresentou um episódio do Você Decide para abordar o tema honestidade: um desempregado, interpretado por Diogo Vilela, que acha uma maleta de dinheiro deixada por um rapaz que morre após passar mal. Na nova votação, o público decidiu que o personagem devolvesse o dinheiro. Em 1992, a opção escolhida pela maioria foi que ele ficasse com a maleta.
Será que, de fato, está havendo uma modificação de direção da bússola moral brasileira? Ou apenas se estabeleceu uma espécie do politicamente correto, tão em voga nos dias que correm?
Estamos vendo que uma modificação, sem sombras de dúvidas, está acontecendo: os refestelados nos cumes do poder econômico e político não estão se vendo mais livres do alcance das ações judiciais. Os desmandos dessa gente, ora negados, ora explicados criativamente, não são mais intocáveis. A Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal têm resgatado o brio brasileiro. Naturalmente, apaixonados irão de um lado e do outro dos acusados e indiciados desenvolverem suas defesas. Entendo, no entanto, que deveremos neutralizar a admiração, e firmar a necessidade de que pessoa alguma pode deixar de responder pelos seus desatinos ilegais, a que pretexto for. Isso deve ser direcionado a toda e qualquer pessoa, de que ideologia ou segmento for, sem se tornar em um escárnio persecutório, com fito apenas político.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSal e fundador da Cidade da Luz